O efeito Kiko!

Publicado em: 10 de abril de 2008.

“Ooouuh! Cale-se, cale-se, você me deixa looooouuco!!!!!”.

Por Sávio Bittencourt

“CHAVES” é um divertidíssimo programa humorístico na televisão, de origem mexicana que, apesar de ser direcionado ao público infantil, agrada muito também a jovens e adultos. Propõe situações hilárias, com roteiros sobre o cotidiano de uma vila de subúrbio. A produção é muito simples, com dois ou três cenários apenas. O forte do programa são os personagens, que dão vida às tramas ingênuas que vão se sucedendo.

O personagem-título, Chaves, é um menino sem família que vive na rua da vila, e dorme dentro de um barril. São dele as frases “foi sem querer querendo”, usada para explicar alguma bobagem e “ninguém tem paciência comigo”, que menciona sempre que alguém perde a paciência com ele. Ele convive com os amigos Kiko, Chiquinha e Nhônho, crianças e com os adultos Sr. Madruga, pobretão esperto e caloteiro, Sr. Barriga, proprietário das casas da vila, sempre interessado em receber seus aluguéis, Dona Florinda, que sempre usa bobs nos cabelos e é apaixonada pelo Professor Girafoles, que anda de terno e chapéu.
O Kiko é um menino mais mimado, cuja mãe, Dona Florinda, chama por “tesouro” e cuida com o esmero e o capricho possível para a classe média baixa mexicana. Quando brinca com Chaves e Chiquinha ele sempre tem uma tirada impagável quando seu interlocutor não para de falar. Acontece assim: num dialogo alguém dispara a falar ininterruptamente, geralmente sobre assunto inadequado ou repetitivo, ele faz uma cara de enfastiado em um primeiro momento, e irritado em seguida com a verborragia infinita do interlocutor. Não agüentando mais o incessante e desarrazoado discurso, le interrompe-o com um grito desesperado:

“OOOUUH! CALE-SE, CALE-SE, VOCÊ ME DEIXA LOOOOOUUCO!!!!!”.

É hilário. Trata-se de um grande basta na chatura alheia. Deveria ser adotado por todos nós na vida real, sem que pudéssemos ser chamados de mal educados ou malucos. Sempre que alguém se arrogasse no direito de nos perturbar, incomodar ou atazanar com assuntos medíocres, preconceitos, mau humor, futilidades e outras coisas deste jaez, teríamos esse direito de fazer calar a criatura e cessar o incômodo quase insuportável. Alívio instantâneo, como o prometido pelos anúncios de remédio para dor de cabeça.

Eu disse “teríamos” esse direito? Permita-me o amigo leitor que eu me corrija: nós temos esse direito! Não somos obrigados a conviver com o mau gênio que as pessoas se permitem ter e necessitamos impor limites para aqueles que privam de nossas vidas. Temos limites sim. Podemos ser altruístas, pacientes e misericordiosos. Mas permitir que pessoas belicosas, mandonas ou incômodas pautem nossas vidas é uma prova de falta de amor próprio. E quem não se ama, não se faz respeitar.

Experimente na sua vida esse “efeito Kiko”. Ame-se o suficiente para que sua paz de espírito seja sagrada e que qualquer atentado contra ela Signifique uma grave profanação. Diga às pessoas o que não é tolerável e faça-se respeitar. Manter nosso espírito livre de informações equivocadas, de emoções mal trabalhadas ou de chateação inútil é uma prerrogativa das pessoas livres. Talvez possamos nos inspirar na espontaneidade de um Rei, como Juan Carlos, da Espanha, dirigindo-se a um presidente perpétuo de um país vizinho, que tem nome de programa de televisão mexicana: PORQUE NON TE CALAS?